Pra quem trabalha com cultura, caminhar pelas ladeiras de Olinda é se
surpreender... Cada casa é uma casa de cultura, um centro cultural, uma escola
de música, uma galeria de arte, exposições, artesanato, um bar, a sede de blocos de carnaval, de
movimentos sociais e estudantis, ou algum mercadinho, frutaria, sorveteria, lan
house...
A casa nunca serve só como moradia, mas também como meio de vida e de
disseminação de cultura... Daí vem uma manifestação cultural tão forte e tão múltipla...
Na rádio, além de músicas diversas de todo o nordeste, como: coco,
maracatu, forró, ciranda, mangue beat, tem muita poesia e literatura de cordel
sendo recitados pelos radialistas. Muitas histórias da saga dos nordestinos parece
nos transportar de volta ao tempo da rádio novela.
O incentivo às manifestações culturais da região não parte só do
povo... Nos shows que aconteceram durante o carnaval, 98% dos artistas eram
nordestinos... Uma realidade muito diferente de Foz do Iguaçu que pouco
valoriza os artistas paranaenses...
A arquitetura de Olinda favorece para uma manifestação cultural tão
intensa, as casas sem muro, todos de frente uma pras outras, que dá pra namorar
da janela... Isso ajuda muito na força do som, quando passa os blocos pelas
ladeiras, sem ajuda de trio elétrico ou qualquer equipamento de amplificação,
só com seus instrumentos de percussão e sopro.
Um pouco mais afastado desse circuito tem as favelinhas, onde pelos
becos e ruazinhas de terra e casas amontoadas, podemos ver pelos quintais
ensaios de maracatu, música, galera sentada na rua, compartilhando a vida.
É importante saber que diante de tantos problemas que enfrenta o Nordeste,
como altos índices de violência, falta d’água, desemprego, saúde e educação
precária, o povo tem tanta força para criar e se manifestar. As pixações e
stencils pelas paredes vão desde mensagens contra o machismo, contra o racismo,
como manifestações contra a copa do mundo e até criticas ácidas a respeito do
carnaval. A anarquia está muito presente nos muros e na forma de vida de muitos
viajantes de toda a América Latina que estão morando por aqui.
Os Sertões de Euclides da Cunha já nos avisava há tempos: “O nordestino
é, antes de tudo, um forte”.
(Texto escrito por Mano Zeu)