O dia em que o Cidade Nova parou a linha 10.

Cidade Nova Informa - CNI
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Já é fato que as coisas só mudam quando o povo se mobiliza e se manifesta. No Brasil inteiro está explodindo protestos contra o preço abusivo da tarifa e a má qualidade do serviço do transporte coletivo público.É curioso que em nosso país o transporte público não é visto como um serviço público. O acesso à saúde, educação e outros serviços públicos são gratuitos, mas o transporte sempre foi pago e isso é encarado como algo normal.As empresas que exploram esse setor não trabalham em pró do bem estar da população, mas sim pelo lucro máximo, cortando gastos, aumentando o preço e sucateando o serviço. Trabalham sobre o sistema do IPK (Índice de Passageiros por Quilômetros rodados), ou seja: levar o máximo de passageiros com o mínimo de viagens.

Deve ser por isso que ficamos tanto tempo esperando no ponto e pegamos o ônibus cada vez mais lotado. Em busca da produtividade o que vale é o máximo de lucro com o mínimo de investimento, tudo isso à custa do sofrimento da população. Em Foz do Iguaçu, três empresas – que formam o consórcio sorriso – ganharam a licitação para a exploração do transporte coletivo na cidade. Ficamos duas décadas e meia sem licitação no setor, onde algumas empresas permissionárias obtiveram o aval para dividir a cidade em quatro regiões onde cada empresa explorava uma dessas partes. Com o consórcio, uma dessas empresas (Viação Itaipu) estava inadimplente junto ao INSS, mas o dono da empresa Ermínio Gatti concorreu com outra empresa que sua família possui em São Paulo e hoje na garagem da Viação Itaipu estão ônibus do Consórcio Sorriso. O novo sistema foi empurrado goela abaixo sem uma ampla discussão com a sociedade sobre itinerários, horários, preço da tarifa. O caos se instalou na cidade toda e os protestos começaram. Morumbi, Bela Vista, Vila C, foram alguns dos bairros que se manifestaram.

No Cidade Nova morador indignado espera o ônibus sentado no banco de pedra. Lá no alto o tempo se fecha pra chuva e o ponto de ônibus está sem o telhado. No Cidade Nova foram três protestos. No primeiro deles foram 10 ônibus parados. O Cidade Nova parou!!! O povo fechou a rua, queimou pneus, exigiu seus direitos e travou um debate com representantes do Foztrans e Guarda Municipal. Sabemos que o novo sistema foi implantado sem muita pesquisa sobre a realidade local.Na audiência pública sobre o transporte coletivo que aconteceu depois da pressão popular, alegou-se que aconteceu uma grande pesquisa perguntando para as pessoas quais os itinerários e horários que elas acostumam fazer no dia a dia. Mas a pesquisa – se ela aconteceu – se mostrou ineficaz, porque no caso do Cidade Nova, cortaram as duas linhas mais utilizadas: O Cidade Nova via INSS e o Ponte da Amizade.

Após as manifestações as linhas voltaram. Inês Pereira Lima dos Santos é moradora do Cidade Nova e participou dos protestos. Em conversa com o CNI ela disse que “O manifesto foi importante, pois as linhas voltaram ao normal, a passar na Ponte da Amizade e INSS”. Eva dos Santos Coelho também participou de todos os protestos e acredita que a situação não avançou muito porque os ônibus continuam lotados e demorados, e ainda subiu o preço da passagem. “Fui esperar ônibus próximo da Vila B e esperei das 18:50 às 19:50”. Outra moradora que se articulou nas mobilizações foi Elza Mendes, educadora social que vive há três anos no bairro. “Aqui só há descaso e muito atraso. Após às 8 horas da manhã até as 17 horas os intervalos são extremamente desgastantes, a gente mofa no ponto. Mas o pior é nos domingos que um ônibus passa às 12:25 e o outro só às 13:55”, se indigna Elza.

Diante do caos instalado na cidade, o povo se mobilizou. No Morumbi criaram a Associação de Usuários do Transporte Coletivo Público. Outra iniciativa popular foi uma manifestação em frente ao TTU organizada pelo Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz do Iguaçu. O CDHMP fez ainda uma denúncia no Ministério Público pedindo a instauração de um inquérito civil público para fiscalizar junto à promotoria de Defesa do Consumidor a péssima qualidade no atendimento. Pressionada, a prefeitura iniciou timidamente algumas reuniões nos bairros para ouvir a população. Mas, além do serviço continuar péssimo ainda subiu o preço da passagem paraR$ 2,65. Novos protestos estão sendo organizados e está em circulação pela cidade um abaixo assinado contra o preço abusivo da tarifa.

Latuff é cartunista e chargista no Rio de Janeiro. Sua arte de protesto é conhecida no mundo inteiro e já teve suas charges usadas pelos movimentos sociais naPalestina, no Egito, no México, no Chile e em diversos outros países. O chargista esteve em Foz do Iguaçu para participar do encontro mundial de blogueiros em agosto desse ano. Esteve no bairro do Cidade Nova onde se encontrou com a galera do Movimento Hip-Hop. No tempo que ficou em Foz conheceu a triste realidade do povo que depende do transporte coletivo urbano e bolou a charge que a gente publicou.

Por Elizeu Pirocelli | Veja as fotos ➚

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