Estudante de antropologia uruguaia que vivia no Brasil é assassinada friamente na cidade de Foz do Iguaçu.
*Por Thayná Torella

Foi no dia 2, domingo de Carnaval que perdemos para o machismo uma das mais queridas alunas da UNILA (Universidade Federal da Integração Latino – Americana).
Martina Piazza Conde (27 anos), uruguaia, futura antropóloga e em seu último ano na Universidade, era conhecida e querida por praticamente toda a comunidade acadêmica, e por toda a comunidade cultural da cidade. Sua luta era diária, e todos sabíamos que encontraríamos a “Marti” em alguma discussão de gênero ou de cultura.
Martina sofreu ironicamente por uma das coisas pelo qual lutava. Martina morreu vítima do machismo. E o que ela teria de características para estimular tanto ódio em alguém? Bem, Martina era uruguaia (estrangeira), ativa nas causas políticas e uma de suas “piores” características: ela era mulher.
Martina havia se apresentado no carnaval de Foz do Iguaçu, no Paraná, com o grupo de Maracatu que integrava, no mesmo domingo em que desapareceria. Na mesma noite iria se encontrar com seu assassino em um bar, homem esse que a estudante mal conhecia.
Nosso “angel de la guarda de los colores” – Marti, saiu daquele ambiente acompanhada e desde então não foi mais vista. A busca pela estudante só foi iniciada depois de mais de 48 horas de desaparecimento e pela cobrança feita pela embaixada do Uruguai à policia brasileira. Seus amigos divulgaram várias de suas fotos nas redes sociais com a hashtag #AlguémviuMartina?
Todos esperavam encontrá-la. A cada minuto sem notícias o desespero era maior para aqueles apaixonados por Marti, aqueles notados por ela. Pois a mesma podia notar a cada um, fossem milhões em uma mesma sala, a mesma era daquelas que tinha paixão pela vida, daquelas que se desdobra pelo outro. Coisa rara na sociedade de hoje.
Quatro dias após seu desaparecimento, Martina foi encontrada morta no apartamento de amigos que viajavam. Ela tinha as chaves e ali ia diariamente regar as plantinhas. As imagens da câmera de segurança do prédio comprovam a entrada do assassino com a estudante e a saída do mesmo com as chaves do apartamento nas mãos, e sem a jovem.
A estudante foi encontrada, estrangulada cruelmente com um cabo de carregador de celular. A polícia está com um mandado de prisão, buscando Jeferson Diego Gonçalvez, de 31 anos, o mesmo homem que estava com ela no domingo e que até hoje permanece foragido. Pedimos a todas e todos que divulguem a foto e ajudem na busca de Jeferson no Brasil, Argentina e Paraguai.


(Jefferson Diego Gonçalvez – foragido. Ajudem a divulgar.)

Martina era uma grande mulher, e assim como todas outras mulheres vítimas de violência e mortas pelo machismo, não merece ser lembrada apenas por ser mais uma estatística. Hoje o femínicidio nos assombra, com cerca de 15 mulheres mortas por dia no Brasil e mais de 50 mil em 10 anos (Ipea). São mulheres esquecidas pela mídia, pelas autoridades e pela sociedade; muitas negras e pobres.
Martina foi encontrada perto do dia 8 de Março, uma data que deveria ser grande lembrança de luta, mas uma luta de todo os dias e não de apenas um dia de compartilhamento de “belezas femininas” no Facebook.
E foi nisso que a morte de Martina vem nos alertar. Nos alerta de como hoje nossas mulheres são mal tratadas pelo sistema como um todo, desde a elaboração de leis que as protejam à execução delas. Nos alerta de como nós, mulheres, precisamos nos unir e cobrar do poder público e judiciário uma outra postura mais ativa e eficiente diante da ainda nossa situação ainda vulnerável. Porque somos, sim, vulneráveis, mas isso está bem longe do conceito de “sexo frágil”. Somos vulneráveis porque estamos expostas a toda e qualquer tipo de violência, simplesmente porque somos mulheres. E não temos respaldo algum das autoridades.
Martina veio de um país onde a discussão sobre o direito das mulheres, e o direito reprodutivo delas está a anos luz mais adiantado do que em nosso país. Ela infelizmente escolheu viver e estudar no Brasil, onde o aborto é tratado como tema religioso e não de saúde pública. Onde as mulheres não tem direito sobre seu próprio corpo. Mas ainda assim, como milhares de mulheres que hoje lutam contra toda hipocrisia e violência desacerbada, Martina sabia que podia ser diferente.
Ela acreditava numa Latino-America livre, sem fronteiras, una y diversa. Veio com o sonho de estudar numa universidade de integração latino-americana cujo projeto é do governo Lula. E isso todos podemos levar dela. Sua força, luta e paixão pela causa.
Filha da Latino-America, nossa querida “uruguacha” escolheu o Brasil como sua segunda casa. Escolheu os brasileiros como sua segunda família. Atuava, dançava e tocava. Integrou-se ao grupo de maracatu da cidade por ser também uma apaixonada pela cultura afro e em breve viajaria para fazer seu trabalho de conclusão de curso voltado a dança e a cultura negra.
A Martina será lembrada a cada dia, a cada instante. Não deixemos nossas Mulheres morrerem em vão. Não joguemos a favor de um sistema tão cruel, lutemos contra ele e a favor da vida das mulheres.
Martina Vive! 
Até que todas sejamos livres!
*Thayná Torella é militante da Marcha Mundial das Mulheres e estudante de Cinema e Audiovisual na Universidade Federal da Integração Latino – Americana (UNILA).
Texto publicado originalmente no site: http://marchamulheres.wordpress.com