Curso de agitprop reúne 80 jovens e fortalece a organização do Levante no Paraná
A memória e a resistência de Zumbi dos Palmares fortaleceram a juventude paranaense neste feriado. Entre os dias 15 e 17 de novembro, cerca de 80 jovens de nove municípios do estado participaram do I Curso de Agitação e Propaganda do Levante Popular da Juventude do Paraná, que levou o nome do líder negro. A partir de grupos de trabalho, palestras e oficinas, o curso debateu o monopólio da mídia e alternativas para construir a soberania da comunicação popular.
Os jovens se reuniram no assentamento Contestado, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no município da Lapa. “A Agitação e Propaganda é a principal ferramenta do Levante, responsável por definir sua identidade nas lutas”, explica o militante Carlos Eduardo Drewinski (o “Dudu”) da coordenação do curso. É por isso que a agitprop, como é conhecida a prática de se expressar e disseminar ideias por meio das mais diversas ferramentas artísticas e de comunicação, é estratégia central do Levante. “Podemos assim dar outra cara aos atos, aproximar as pessoas e espalhar nossa mensagem. Mostramos o que fazemos de modo que seja de fácil compreensão para os outros”, diz Dudu.
O curso foi o primeiro espaço de debate sobre a sociedade do qual a estudante Mônica Andrade Luz, 15 anos, já participou. “Conviver com pessoas diferentes foi muito bom, porque acrescenta cultura. Cada palavra que diziam nas palestras abria a minha cabeça e me ajudava a formar minhas opiniões”, conta a estudante. Para ela, outro saldo positivo do espaço é estar num ambiente sem preconceito, onde ninguém é discriminado por ninguém. “As pessoas podem se vestir, se comportar como querem e como gostam. E nas palestras, trouxeram temas sobre a história da luta mostraram que há pessoas com vontade de continuar essa luta. Essas coisas a escola e a mídia não contam”, diz Mônica, que mora em Mandirituba, região metropolitana de Curitiba.
Através do espaço, segundo Dudu, a intenção do Levante é construir uma brigada estadual permanente de Agitação e Propaganda, que permitirá formar e organizar pessoas para atuar nesta área de modo contínuo no estado. “A partir daqui, também poderemos otimizar continuamente nossas atividades na comunicação. E como o Levante tem alcance nacional, por meio da brigada no estado poderemos contribuir com o movimento em todo o país”, explica.
Construir ferramentas alternativas de comunicação é fundamental para garantir voz aos lutadores e lutadoras do povo, que enfrentam a forte barreira estabelecida pela imprensa hegemônica no país. Com oficinas de muralismo, estêncil, comunicação para internet, vídeo, teatro e rap, além de debates que trouxeram o cenário atual da mídia no Brasil, o encontro possibilitou reunir jovens com um interesse em comum: transformar a sociedade em que vivemos, tendo a comunicação popular como uma das vias para esse caminho.
Ana Caroline Araújo Silva é militante do MST e veio de Rio Bonito do Iguaçu para participar do espaço. “O debate e a interação são importantes para dialogar com toda galera envolvida na mesma luta, expor propostas, projetos em execução e futuros, além da troca de experiências”, opina a jovem, que estuda Engenharia de Aquicultura na Universidade Federal da Fronteira Sul.
“O agitprop, embora voltado primeiramente à comunicação, abrange outras áreas. Com isso, ganha um caráter interdisciplinar, pois possui formação politica, no desenvolvimento comunicativo um que considero dos mais importantes, que é o contato intercultural”, aponta Ana Carolina. “O encontro situa a juventude da realidade dos meios de comunicação brasileiro, expondo a contraposição do que é mostrado com o que de fato acontece”.