O texto que segue é uma tentativa de sistematizar o acumulo de debates coletivos dentro do Levante Popular da Juventude, bem como do material já produzido sobre a agitação e propaganda. Para isso foram utilizados os textos: Sistematização do I Curso Nacional de Agitprop do Levante Popular da Juventude; AGITPROP: sobre a experiência de nossas organizações, de Rafael Villas Bôas e Agitação e Propaganda no processo de transformação social, da Via Campesina.

O QUE É AGITAÇÃO E PROPAGANDA?

Primeiramente, é importante situar o que entendemos por agitação e propaganda, seu papel e a que ela serve a um movimento social de massas. É importante compreendermos o agitprop como um método, que reúne um conjunto de formas e táticas que podem ser utilizadas conforme as opções demandadas pela estratégia. Nesse sentido a agitação e propaganda são mais do que técnicas ou estéticas políticas e seus militantes, devem ser mais do que meros grupos artísticos, animadores de atos ou panfleteros (que muitas vezes são até terceirizados por organizações que resumem a sua agitação ao convencimento eleitoral), mas a sua produção deve estar ligada ao todo da organização, a sua estratégia e a leitura constante da conjuntura. Os/as agitadores/as e propagandistas devem se formar poítico e ideologicamente de acordo com as necessidades impostas pela vida política e pelos objetivos da organização. Ou seja, para que a agitação e propaganda seja eficaz ela precisa fazer a conexão entre a estratégia da organização e os pontos centrais das contradições que emergem na conjuntura. É isso que permite o ataque às estruturas de poder, e a ação contra-hegemônica, fortalecendo o poder e o protagonismo popular, formando a partir da realidade e do exemplo pedagógico. 

É fundamental que as ações de agitprop articulem permanentemente elementos da conjuntura e da base estrutural do sistema que criticamos. Nossa tarefa é ligar a “parte” ao “todo”, fazer com que a partir dos problemas imediatos e cotidianos se possa compreender o sistema e suas contradições mais profundas, seu funcionamento. Quando construímos ações nessa perspectiva, podemos causar um efeito permanente de estranhamento das relações de poder que a classe dominante naturalizou em séculos de sistemática violência do Estado e da burguesia contra a população pobre. Isso possibilita elevarmos o nível de consciência da classe e construirmos experiências organizativas mais prolongadas e sólidas.

Podemos nos utilizar de várias táticas de agitação e propaganda como as escritas (panfletos, jornais, revistas, boletins) audio-visuais (cartazes, vídeos, rádios, canais de TV, muralismos) teatrais, marchas, ações diretas, musicais, ou mesmo o conjunto de várias técnicas. O importante é ter em mente qual o objetivo da intervenção, isso define a forma, a duração e a eficácia da intervenção. Sistematicamente, trabalhemos com duas formas gerais de agitação e propaganda: 1) intervenções radicalizadas, que pretendem ferir de forma a expor uma grande contradição e enfraquecer o inimigo, nos projetando e alterando o nível do debate político na sociedade. Um exemplo disso foram os escrachos, ações de grande impacto, que incidiram fortemente na pauta. Essas intervenções são de caráter mais imediato e de desestabilização do inimigo. 2) Agitação e propaganda construídas de forma cotidiana e territorializada no nosso trabalho de base; ações que devem ser pensadas de forma prolongada e permitem uma maior emulação orgânica. Demos aprender a fazer a leitura de quando utilizar cada uma, podendo uma mesma pauta ou bandeira ser trabalhada nessas duas perspectivas, como estamos fazendo com a Democratização dos Meios de Comunicação.

AGITAÇÃO E PROPAGANDA NA ATUAL CONJUNTURA

Passamos por um momento impar na recente história da política brasileira, vendo milhões de pessoas, principalmente jovens, irem às ruas de forma mais ou menos espontânea, reivindicar uma série de “direitos sociais” e outras demandas. Assistimos e participamos de uma série de protestos massivos, com um sujeito central que nos coloca imensos desafios, dentre eles o de como nos colocar como uma referência organizativa para essa multidão de jovens que foi desacreditada da política e das organizações tradicionais. É necessário construir formas de agitação e propaganda de massas que até então a realidade histórica não havia nos permitido experimentar.

Houve uma série de avaliações nesse sentido e temos alguns consensos em torno principalmente de algumas ferramentas no âmbito da agitação: a bateria e grandes faixas, com mensagens claras que possam ser vistas em imagem aérea e a agitação via redes sociais; e no âmbito da propaganda: a construção de aulas públicas; panfletagem nas concentrações dos grandes atos e a panfletagem do Jornal Brasil de Fato. Mas ainda precisamos qualificar nossa intervenção para esse novo cenário político, para que seja capaz de nos projetar, fortalecer nossa organicidade e elevar o nível de consciência das massas. Com o seguinte refluxo das grandes mobilizações que já estamos vivenciando, teremos algum tempo para nos formar, impulsionar nossas brigadas de agitprop, crescer no trabalho de base, nos enraizar e nos armar, pois sabemos que muito ainda está por vir. E o cenário nos impõe táticas ainda mais radicalizadas, com uma mensagem clara capaz de colocar o Projeto Popular em cena e de uma estética inovadora e provocadora, que consiga cativar a juventude que vai às ruas.

É hora de construirmos a contra-hegemonia e pendermos a balança para as forças populares, obtermos conquistas e ceifar o inimigo o máximo que pudermos, para alterar a correlação de forças que ainda nos é desfavorável.

DESAFIOS E PRESSUPOSTOS PARA AS BRIGADAS DE AGITPROP
  • Nossa agitprop deve fomentar a formação política e ideológica dos nossos militantes e da nossa base.
  • É fundamental articular agitação e propaganda com a estratégia de trabalho de base.
  • A Agitprop não é um fim em si, mas está relacionada com a política mais ampla de cada organização e com sua estratégia e mensagem. 
  • Construção do poder popular, pela crítica contra-hegemônica e empoderamento da juventude e da classe trabalhadora.
  • Construção dos valores socialistas de solidariedade e coletividade, principalmente através do exemplo pedagógico e do compromisso com a vida do povo.
“É PRECISO QUE A AGITAÇÃO E PROPAGANDA ESTEJA VINCULADA À ESTRATÉGIA, PARA QUE NÃO SE TORNE SOMENTE UM GRUPO ARTÍSTICO, UM APÊNDICE DA ORGANIZAÇÃO, E SIM ALGO QUE PERPASSA A ESTRUTURA. A AGITAÇÃO E PROPAGANDA É TAREFA DA ORGANIZAÇÃO, E NÃO DE UM GRUPO AUTÔNOMO, COM LINHA POLÍTICA PRÓPRIA. ELA TEM QUE SE TERRITORIALIZAR, TEM QUE SERVIR PARA POTENCIALIZAR O TRABALHO DE BASE, PARA CRESCER, PARA MULTIPLICAR O GRUPO, PARA FAZER ARTICULAÇÕES.” (Sistematização do I Curso Nacional de Agitprop)