Eduardo Marinho lança seu livro: Crônicas e Pontos de Vista, na biblioteca Comunitária -CNI no dia 13 de outubro de 2013. Foi um domingo maravilho, pois foi  lembrado neste dia, "O dia das Crianças", no qual, seguiu com várias apresentações culturais (poesias, musicas) e o circo de rua Emanuel. Participação dos moradores do bairro e região e, os acadêmicos e professores da UNILA.

Eduardo Marinho cerca de 50 anos, filho de um coronel do exército, abriu mão de tudo na sua juventude e saiu para o mundo, viver a vida que ele queria viver, conhecer as coisas como ele queria, deste modo, traz para o Cidade Nova umas das coisas mais importante que é a sua experiencia de vida 

Eduardo inicia com a frase: "Vendo a biblioteca vejo acender uma luz do fim do túnel".

Desta forma, a CNI em sua dependências consegue ter o IV lançamento com a presença ilustre do "Filósofos das Ruas" Eduardo Marinho, com o livro:


[Esse livro] foi um trabalho feito basicamente pelo Rodrigo Raro, editor da Navilouca, que leu meus textos e achou que valia a pena. Toda a parte da arrumação foi feita por ele, já macaco velho de editora, embora jovem ainda, e me poupou do que nunca me propus - encarar as burocracias e tratar com as instituições do Estado por iniciativa própria. Só faço isso obrigado por alguma circunstância além do meu controle.


A MEU PAI

Senti a dor que lhe impus. Lamentei cada fração dessa dor. Ninguém acreditou. Eu me tornei o agressor, o ingrato, aquele que desprezou todos os esforços feitos em meu próprio benefício. Um traidor da família.

Lamentei cada grão da dor que minhas atitudes provocaram. Ninguém viu, ninguém sabe, ninguém acredita. Durante muito tempo, minha família de origem deixou de existir em minha vida, eu deixei de existir na vida dela. Creio que em meu pai a dor foi mais profunda, pelas projeções a meu respeito que ele viu desmoronar.

Ah, meu pai! Esperei, na certeza de um dia você entender que foi minha busca por justiça, minha inconformação com a situação absurda da nossa sociedade, o que moveu minhas atitudes, depois de várias tentativas de me enquadrar em alguma posição convencional – apenas para não ferir, pois tais conquistas já não me empolgavam, ao contrário, me pareciam uma espécie de rendição, de conformação, de injustiça.

Quando soube da sua morte, tive o sentimento de que o nosso abraço tinha sido adiado, "agora só quando eu chegar do outro lado, também”. Lá deve ser mais fácil compreender os valores que me guiaram, pois aqui os valores sem sentido são impostos e têm base na forma, no aspecto, no externo. Nosso entendimento talvez já se esboçasse, nos últimos tempos, mas não seria nesse plano. A casa onde moro foi comprada por ele, em decisão própria e para minha surpresa, três meses antes da sua partida. Agradeci pela casa e lhe desejei boa viagem e boa chegada. No vazio que senti naquele dia, diante da ausência, da carência, do amor distante e pleno, escrevi na última página de um caderno, sem pensar, apenas sentindo, muito, esse pequeno texto de despedida e esperança que exponho mais abaixo.

É preciso explicar que, quando nasci, meus pais tinham, ambos, 39 anos. Nos meus 19, quando me expus ao sol do mundo, estavam nos 59 anos. Quando tornei a encontrá-los, os sinais do tempo eram bem marcantes, quinze anos haviam se passado. Eu lhes ficara tão estranho que a distância permaneceu grande – agora menos física, mais sensorial, ideológica, vibracional. A visão de mundo desenvolvida na vivência em pleno chão da sociedade é francamente rejeitada, hostilizada, negada raivosamente não só por eles, mas por toda aquela classe, à qual eu já não pertencia.

“Tivemos tão pouco tempo...
acabei nascendo tarde
e pensando diferente.
Tivemos tão pouco tempo...
e o pouco tempo que tivemos
foi sem muita intimidade.
Cresci tão distante,
fiquei tão estranho,
estivemos tão longe
tanto tempo...
O pouco que tivemos
jamais intimidade
e, no entanto,
eu o amo, tanto, tanto...”

Amor incondicional. Lamento sua visão da minha pessoa e dos meus valores, mas respeito inteiramente, mesmo discordando. Não tenho verdades, mas impressões, opiniões, intuições. O tempo se encarrega das mudanças que não pudemos realizar e que são inevitáveis. Formar a própria visão de mundo e as opiniões é direito e responsabilidade de cada um.

Grande amor, grande respeito e vontade de encontrá-lo, quando chegar o momento. 

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Eduardo Marinho algumas de suas obras: +fotos